Este é um trecho não editado do meu próximo livro pela Crossway: The Discipleship Book: Now That I Am a Christian. Título do capítulo: “Dor e sofrimento” (Nome do livro e título provisórios).
A grande maioria dos cristãos que sofrem com dúvidas significativas em sua fé, sofrem devido à dor e ao sofrimento que experimentam em suas vidas. O falecido filósofo cristão Ronald Nash disse uma vez que é completamente irracional rejeitar a fé cristã por qualquer outra razão que não seja o problema do mal. Isso expressa o respeito que ele dava a essa questão. C.S. Lewis, o grande escritor cristão, escreveu um livro muito acadêmico sobre dor, sofrimento e mal, chamado O Problema da Dor. Foi um trabalho maravilhoso e monumental, e eu o recomendo sem hesitar. Mas, depois que escreveu esse trabalho, ele experimentou dor e sofrimento em nível diferente. Uma coisa é avaliar algo visto por fora; outra coisa bem diferente é experimentá-la. C.S. Lewis perdeu sua mulher depois de uma batalha contra o câncer, cheia de altos e baixos. Isso o arrasou e o colocou de joelhos; e ele descansou um pouco diante de Deus, fazendo perguntas dolorosas que resultaram da sua desilusão. Felizmente, toda a sua experiência está registrada em outro livro sobre dor. Este foi um livro muito pessoal, chamado A Anatomia de uma Dor. Nele, Lewis se debruçou desnudado diante de Deus, expressando a sua confusão. Eu também recomendo fortemente esse livro. Estes são dois trabalhos muito diferentes, um intelectual e um emocional, pela mesma pessoa, sobre o mesmo tema.
Eu não quero que você seja surpreendido pelo sofrimento. Eu quero que você seja capaz de lidar com o mal e a dor tanto acadêmica quanto emocionalmente. Falarei primeiro sobre o lado acadêmico do mal, da dor e do sofrimento. Ele é geralmente chamado de “o problema intelectual do mal”. Me acompanhe, pois as coisas podem ficar um pouco técnicas.
O Problema Intelectual do Mal
O Problema Intelectual do Mal tenta resolver um problema lógico em um mundo que tem dor, sofrimento e maldade, e ao mesmo tempo possui um Deus bom e todo poderoso que o governa. Deixe-me definir esse problema usando um silogismo:
Premissa 1: Deus é todo-bom (onibenevolente)
Premissa 2: Deus é todo-poderoso (onipotente)
Premissa 3: Sofrimento e mal existem
Conclusão: Um Deus todo-bom e todo-poderoso não poderia existir já que há tanto sofrimento e mal no mundo. Se ele existisse, ele poderia erradicar esse mal.
O debate sobre esse problema tem apenas se intensificado em um mundo onde a tecnologia nos permite compartilhar os sofrimentos de milhões de pessoas em todo o mundo. A internet nos deixa a um clique dos rostos daqueles que tiveram seus filhos raptados, daqueles que morrem de fome, dos doentes e deformados de formas inimagináveis, e daqueles cujos pais sem amor os deixam trancados em um armário enquanto saem para jantar. Nós não conseguimos passar um dia sem ouvir maldades como essas e , embora nem todas sejam partes da nossa comunidade imediata, são uma experiência comum para toda a raça humana. Portanto nós começamos com a questão do papel de Deus nisso tudo. E nós somos trazidos a esse dilema. Se Deus existe, se Deus é bom e não tem prazer no mal, e se Deus é poderoso o suficiente para mudar as coisas, por que o mal ainda existe? Deixe-me mostrar algumas formas erradas com as quais as pessoas lidam com essa questão.
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1. A resposta Sadoteística
Premissa 1: Deus é todo-bom (onibenevolente)
Premissa 2: Deus é todo-poderoso (onipotente)
Premissa 3: Sofrimento e mal existem
Conclusão: Deus tem prazer em provocar sofrimento e dor por razão nenhuma.
Deus está no time adversário.
O Sadoteísta acredita que Deus é um sádico mau que tem prazer em provocar sofrimento sem nenhuma boa intenção de qualquer natureza. Isto poderia ser verdade. Poderia ser o caso de Deus ser um sádico. O que eu quero dizer é que não há dificuldade lógica aqui que não pode ser superada. O problema com a posição sadoteísta é que esta não é a forma como Deus se revelou na história ou na Bíblia. A cruz de Cristo é a maior ilustração do amor de Deus que nós temos. O próprio Deus sujou os seus pés e sangrou suas mãos para salvar a humanidade. Acima de tudo, o Sadoteísta tem que tomar emprestada a moralidade de Deus para julgar a Deus! Em outras palavras, como o Sadoteísta sabe o que é mal e bem fora do amor e existência de Deus? Esta visão, embora logicamente possível, é biblicamente errada.
2. A resposta do Teísmo Aberto
Premissa 1: Deus é todo-bom (onibenevolente)
Premissa 2: Deus é todo-poderoso (onipotente)
Premissa 3: Sofrimento e mal existem
Conclusão: Deus autolimitou suas habilidades de forma que ele possa se relacionar genuinamente com a humanidade. Dessa forma, Deus não pode parar todo sofrimento e mal.
Deus está no nosso time, mas ele é apenas um “cheerleader” à beira do campo que está torcendo por nós enquanto observa o desenrolar das coisas.
Nessa resposta, o teísmo aberto lida com o problema da dor e do sofrimento dizendo que Deus, devido ao seu comprometimento com a liberdade do homem, não pode fazer nada. Isso é uma autolimitação do poder de Deus e de Seu conhecimento. O mal pode ocorrer, mas apenas porque Deus está comprometido com a liberdade da vontade do homem. Esta visão é, também, logicamente possível. Em outras palavras, a abordagem de Deus com o mundo poderia ser mais ou menos frouxa. Mas isso milita contra as Escrituras, que diz que Deus está no controle e conhece o futuro. Por exemplo, veja o que o livro de Daniel diz a esse respeito:
Todos os moradores da terra são por ele reputados em nada; e, segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes? (Daniel 4.35, RA)
Parece que Deus está no controle das coisas. O que quer que aconteça é, em algum sentido, vontade de Deus, mesmo o mal. Acredito que é importante para nós nesse ponto (enquanto posso ver suas sobrancelhas se levantarem e ouvir seu batimento cardíaco aumentar!) distinguir o que os teólogos chamam de “as duas vontades de Deus”. Deus tem duas vontades. Nós as chamamos de “vontade decretiva” e “vontade preceptiva”. Deus quer que você sofra? Sim. Deus quer que você sofra? Não. Veja, existe um sentido no qual o desejo ou vontade de Deus é que ninguém jamais peque ou sofra mal. Mas em um mundo caído, Deus usa o pecado para cumprir seus propósitos. Se Deus não usasse o pecado e o mal, então ele não se envolveria com o nosso mundo, porque não há nada mais com o que trabalhar! Ele tem que “sujar” suas mãos e usar o pecado se for cumprir seu bom propósito. Em última análise, isto irá levar a um mundo sem pecado e sofrimento (céu). Mas, por enquanto, ele trabalha com isso e, em um sentido contextualizado, é a sua vontade. A resposta ao problema do mal dada pelo Teísmo Aberto falha em enxergar como Deus poderia estar envolvido em coisas tão terríveis. E também falha ao considerar que Deus está trabalhando para que todas as coisas cooperem para o bem, mesmo sofrimento e dor.
“Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.” (Rm. 8.28 ,RA)
Todos os moradores da terra são por ele reputados em nada; e, segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes? (Daniel 4.35, RA)
“Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.” (Rm. 8.28 ,RA)