quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Não, Você Não é a Igreja.


“E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração, Louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à Igreja aqueles que se haviam de salvar”. (Atos 2.46-47)
“Contudo, uma vez que agora nosso propósito é discorrer acerca da Igreja visível, aprendamos, mesmo do mero título mãe, quão útil, ainda mais, quão necessário nos é seu conhecimento, quando não outro nos é o ingresso à vida, a não ser que ela nos conceba no ventre, a não ser que nos dê à luz, a não ser que nos nutra em seus seios, enfim, sob sua guarda e governo nos retenha, até que, despojados da carne mortal, haveremos de ser semelhantes aos anjos (Mt 22.30). Porque nossa habilidade não permite que sejamos despedidos da escola até que tenhamos passado toda nossa vida como discípulos. Anotemos também que fora de seu grêmio não há de esperar-se nenhuma remissão de pecados, nem qualquer salvação”. (João Calvino, Institutas da Religião Cristã, 4:1:5)

Um movimento que cresce cada vez mais em nosso país é o dos “cristãos desigrejados”. São pessoas que professam o Cristianismo, mas que, por diversos motivos, abandonaram a Igreja. Muitos são os argumentos utilizados para justificar o abandono. O objetivo deste artigo é analisar uma destas justificativas: a ideia de que a Igreja de Jesus Cristo não é visível e institucional, mas que cada cristão faz parte da Igreja, ainda que ele se recuse a frequentar qualquer culto ou se submeter a qualquer autoridade eclesiástica.

Um erro frequente entre cristãos modernos é o menosprezo e ignorância em relação ao que a Bíblia ensina sobre a Igreja visível e institucional. É uma heresia que se manifesta de muitas maneiras, mas, basicamente, se resume a ideia de que não temos a obrigação de frequentar e ser membro de uma igreja, pois, supostamente, cada cristão já “é igreja” onde quer que estejam e qualquer aglomeração de cristãos também “é igreja” e, consequentemente, basta se encontrar ocasionalmente com outros “desigrejados” para bater um papo sobre Deus que as obrigações bíblicas relacionadas à “comunhão dos santos” já terão sido cumpridas.

Na segunda vez em que a palavra “igreja” aparece no Novo Testamento, já podemos constatar o absurdo de dizer que cada cristão individualmente “é igreja” ou que qualquer aglomeração de cristãos seja uma igreja:

“Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão; Mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada. E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutara igreja, considera-o como um gentio e publicano. Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu”. (Mateus 18.15-18)

Aqui Nosso Senhor explicou como deve ser o procedimento por parte daqueles que foram seriamente ofendidas por alguém que, presume-se, é cristão. Inicialmente, o ofendido não deve expor o ofensor. Deve procurar resolver o problema a sós com o ofensor. O segundo passo, caso o ofensor não se arrependa do que fez, é chamar duas ou três testemunhas para buscar resolver o problema. Novamente, o ofensor não foi exposto publicamente. A diferença é que agora há a presença de duas ou três outras pessoas. É somente depois destes dois passos que o problema é finalmente levado a Igreja.

É aqui que devemos notar algo crucial. Todo o processo descrito por Jesus incluiria somente cristãos. A parte ofendida e as duas ou três testemunhas são cristãs e, segundo Jesus, deve-se presumir que o ofensor também seja até que todas as tentativas de conduzi-lo ao arrependimento tenham se esgotado. Mas, ainda assim, é somente no terceiro passo que Jesus falou na igreja. Ainda que Jesus tenha falado de cristãos o tempo inteiro, ele não reconheceu cada um desses cristãos como sendo igreja. A parte ofendida era um cristão. Mas, ele não era a igreja. As duas ou três testemunhas também eram cristãs. Todavia, eles também não eram a igreja. Jesus diz que eles deveriam falar a igreja. Isso demonstra que é a falsa a ideia de que cada cristão individualmente seja igreja ou que qualquer aglomeração de cristãos seja igreja. Se cada cristão individualmente fosse a igreja, então o problema já estaria sendo tratado pela igreja desde o momento em que o indivíduo que foi conversar com seu ofensor. Se qualquer aglomeração de cristãos fosse uma igreja, então o problema já estaria sendo tratado pela igreja desde o momento em que as duas ou três testemunhas foram acompanhar o indivíduo que foi ofendido. O indivíduo ofendido junto de duas ou três testemunhas somam três ou quatro cristãos. Eles eram uma igreja? Não. Pois, caso o ofensor não os escutasse, só então é que o problema seria levado à igreja. Isso mostra que a Igreja não é simplesmente as pessoas. A Igreja inclui as pessoas, mas não é simplesmente isso. A Igreja é maior do que as pessoas. A Igreja é uma instituição.

Para perceber como a visão do desigrejados sobre a “igreja” é falsa, basta se fazer a seguinte pergunta: “Como um desigrejado poderia obedecer a Mateus 18? Como seria possível cumprir o terceiro passo da ordem de Jesus?”

O Governo Eclesiástico

A Igreja de Cristo não é uma anarquia. Ela tem um governo. Acima de tudo, há o governo de Cristo, pois Deus “sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da Igreja” (Ef 1.22). E, abaixo de Cristo, Deus instituiu também um governo humano para Sua Igreja:

“E, tendo anunciado o evangelho naquela cidade e feito muitos discípulos, [Paulo e Barnabé] voltaram para Listra, Icônio e Antioquia, confirmando as almas dos discípulos, exortando-os a perseverarem na fé, dizendo que por muitas tribulações nos é necessário entrar no reino de Deus. E, havendo-lhes feito eleger presbíteros em cada igreja e orado com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido”. (Atos 14.21-23)

Aqui nós aprendemos que os apóstolos, neste caso Paulo e Barnabé (At 14.14), depois de estabelecerem novas igrejas em novos lugares, promoviam uma eleição em cada igreja para que homens fossem ordenados a presbíteros. Antes da eleição, eles eram membros comuns das igrejas. Depois da eleição, recebiam a autoridade para governar a Igreja. A palavra presbítero é πρεσβύτερος (presbuteros) no grego bíblico. A palavra também pode ser traduzida comoancião. Em outros textos, aprendemos também que o ofício do presbítero(πρεσβύτερος – presbuteros) era equivalente ao ofício do bispo (ἐπίσκοπος – episkopos) e ao de pastor (ποιμήν – poimēn). As três palavras eram usadas como sinônimas:

“E de Mileto mandou a Éfeso, a chamar os presbíteros (πρεσβύτερος – presbuteros) da igreja… Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho (ποίμνιον – poimnion) sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos (ἐπίσκοπος – episkopos), para apascentardes (ποιμαίνω – poimainōa) igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue. Porque eu sei isto que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não pouparão ao rebanho; E que de entre vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si”. (Atos 20.17,28-30)

Aqui o Apóstolo Paulo falou às autoridades eclesiásticas de Efésios sobre como os presbíteros/bispos/pastores foram instituídos por Deus para governar Sua Igreja, o que inclui a necessidade de protegê-la de falsos mestres. Ele escreveu essencialmente o mesmo nas cartas a Tito e Timóteo:

“Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam, e de cidade em cidade estabelecesses presbíteros (πρεσβύτερος – presbuteros), como já te mandei: Aquele que for irrepreensível, marido de uma mulher, que tenha filhos fiéis, que não possam ser acusados de dissolução nem são desobedientes. Porque convém que o bispo (ἐπίσκοπος – episkopos) seja irrepreensível, como despenseiro da casa de Deus, não soberbo, nem iracundo, nem dado ao vinho, nem espancador, nem cobiçoso de torpe ganância; Mas dado à hospitalidade, amigo do bem, moderado, justo, santo, temperante; Retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, como para convencer os contradizentes”. (Tito 1.5-9)

“Esta é uma palavra fiel: se alguém deseja o episcopado (ἐπισκοπή – episkopē), excelente obra deseja. Convém, pois, que o bispo (ἐπίσκοπος – episkopos) seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar; Não dado ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não contencioso, não avarento; Que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia (Porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?); Não neófito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo. Convém também que tenha bom testemunho dos que estão de fora, para que não caia em afronta, e no laço do diabo”. (I Timóteo 3.1-7)

Aqui nós vemos o Apóstolo Paulo estabelecendo os critérios para que alguém fosse presbítero/bispo/pastor. Primeiro, ele menciona características morais. O presbítero/bispo/pastor deve ser um cristão moralmente “irrepreensível” (Tt 1.7; I Tm 3.2). Caso o candidato seja demasiadamente dominado por fraquezas, ele não é não é apto para se tornar “despenseiro da casa de Deus” (Tt 1.7). Além disso, Paulo compara a função que o presbítero/bispo/pastor exerce na igreja com a função que o pai de família exerce em casa: “que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com todo o respeito. pois, se alguém não sabe governar a sua própria casa, como cuidará da igreja de Deus?”. (I Tm 3.4-5) Assim como o pai tem a responsabilidade de governar sua esposa (Ef 5.24; I Co 11.3) e filhos (Ef 6.1; Cl 3.20), o presbítero/bispo/pastor tem a responsabilidade de governar a igreja de Deus.

Desigrejados que negam que a Igreja tenha um governo humano e autoridades humanas terão negar também a autoridade do pai de família, algo que foi explicitamente ordenado no quinto mandamento – “Honra a teu pai e a tua mãe” (Ex 20.12). Paulo deixou claro que a autoridade do presbítero/bispo/pastor sobre a igreja não é edificada sobre qualquer preferência ou consenso humano, mas é expressamente ordenada por Deus. Ele explicitamente comparou a autoridade do presbítero/bispo/pastor sobre a igreja com a autoridade do pai sobre sua própria família de maneira que não é possível negar uma coisa sem negar outra. Os membros da igreja não têm a mesma autoridade. “Os presbíteros… governam” (I Tm 5.7). Os outros membros da igreja não governam, mas são governados. É assim que Jesus Cristo estabeleceu Sua Igreja para ser. Como está escrito:

“Os presbíteros que governam bem sejam tidos por dignos de duplicada honra, especialmente os que labutam na pregação e no ensino”. (I Timóteo 5.17)

“Ora, rogamo-vos, irmãos, que reconheçais os que trabalham entre vós,presidem sobre vós no Senhor e vos admoestam; e que os tenhais em grande estima e amor, por causa da sua obras”. (I Tessalonicenses 5.12-13)

“Obedecei a vossos pastores, e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas almas, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil”. (Hebreus 13.17)

Não Preciso de Ti!

Se Deus estabeleceu alguns na Igreja para governarem e outros para serem governados, segue-se que se alguém não governa um rebanho, ele necessariamente tem que estar submetida à autoridade daqueles que governam. Se alguém não governo, isto é, se não é presbítero/pastor/bispo, mas também, por consentimento próprio, não é governado, tal pessoa está excluída da Igreja de Deus, do corpo de Cristo e, consequentemente, deve ser, a priori, reconhecida como “gentio e publicano” (Mt 18.17). Não há alternativa lógica. A Igreja de Cristo não é uma anarquia onde “cada um [faz] o que [parece] bem aos seus olhos”. (Jz 17.6) Cristo estabeleceu Sua Igreja com um governo. Aqueles que não se submetem ao governo, não fazem parte da Igreja. Este é um dos grandes pecados dos desigrejados. Eles não se submetem as autoridades constituídas por Deus. Eles acreditam que não precisam das autoridades.

“Pois em um só Espírito fomos todos nós batizados em um só corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos quer livres; e a todos nós foi dado beber de um só Espírito… E o olho não pode dizer à mão: Não tenho necessidade de ti; nem ainda a cabeça aos pés: Não tenho necessidade de vós”. (I Coríntios 12.13, 21)

Aqui o Apóstolo Paulo deixou claro que aqueles que se tornam cristãos são batizados pelo Espírito no corpo. Isto é, são incluídos na Igreja. Não existe Cristianismo sem Igreja. O cristão, quando se torna cristão, é incluído na Igreja de maneira que se ele se aparta da Igreja, ele está se rebelando contra a obra do Espírito. Com base nisso, o Apóstolo explica que os cristãos, como membros da Igreja, têm dons e vocações diferentes. Mas, ainda que sejam dons e vocações diferentes, o Deus que chama é o mesmo e a Igreja é a mesma. O fato de um cristão ser chamado exercer um dom para uma coisa não significa que ele possa desprezar aqueles que não foram chamados com a mesma vocação. “E, se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo?” (I Co 12.19) Dentre os diversos dons que o Apóstolo cita, ele menciona os “governos” (I Co 12.28). Aqueles que foram chamados para governar são parte do corpo. “E o olho não pode dizer à mão: Não tenho necessidade de ti”.Aqueles que são governados não podem dizer aos que governam: Não preciso de ti! Deus estabeleceu alguns na Igreja para governarem e outros para serem governados. Aqueles que não se submetem aos que governam – presbíteros/bispos/pastores – pecam severamente contra Deus em sua“independência”. Deus não estabeleceu a Igreja para que cada cristão fosse independente. Ele estabeleceu a Igreja para ser governada por presbíteros/bispos/pastores. A Igreja não é cada cristão individualmente em sua própria casa onde “cada um [faz] o que [parece] bem aos seus olhos” (Jz 17.6). A Igreja é uma instituição com um governo legitimamente instituído por Deus. O Apóstolo Pedro não mediu palavras contra aqueles que se recusam a se submeter às autoridades:

“O Senhor livrar da tentação os piedosos, e reservar para o dia do juízo os injustos, que já estão sendo castigados; especialmente aqueles que, seguindo a carne, andam em imundas concupiscências, e desprezam toda autoridade. Atrevidos, arrogantes, não receiam blasfemar das dignidades”. (II Pedro 2.9-10)

A carta de Judas chega ao ponto de chamar aqueles que ensinam a rejeitar as autoridades de falsos mestres:

“Contudo, semelhantemente também estes falsos mestres, sonhando, contaminam a sua carne, rejeitam toda autoridade e blasfemam das dignidades”. (Judas 1:8)

O Culto Público

“As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja”. (I Coríntios 14.34-35)

Aqui, novamente, podemos constatar o absurdo de dizer que cada cristão individualmente é a igreja em qualquer lugar ou que qualquer aglomeração de cristãos seja uma igreja. Se cada cristão individualmente fosse igreja ou se qualquer aglomeração de cristãos fosse uma igreja, segue-se que, neste verso,Paulo estaria proibindo as mulheres de falarem em qualquer circunstancia e em qualquer lugar. Evidentemente, não é sobre isso que Paulo estava falando. A palavra igreja nestes versos, evidentemente, se refere especificamente àreunião publica especial. O que Paulo disse é que as mulheres não podem ensinar e pregar no culto público. Elas podem falar em qualquer outro lugar e situação, como, por exemplo, em suas casas, simplesmente porque neste caso elas não estão na reunião pública da igreja.

Desigrejados e outros hereges anarquistas têm dificuldades de entender isso porque eles não aceitam qualquer diferença entre o que acontece na igreja e o que acontece fora da igreja. Eles acreditam na mentira de que cada um de nós“é igreja em todo lugar” e, portanto, que não acreditam que há um momento especial para uma reunião pública especial com regras especiais que não vigoram em outros momentos. Diferente deles, o Apóstolo Paulo cria que em situações normais, as mulheres poderiam falar, mas que o culto público é uma ocasião especial com regras especiais, dentre as quais existe a seguinte regra: “as vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas”. Com isso, Paulo claramente demonstra que as igrejas devem promover cultos públicos, que os cristãos tem a obrigação de frequentá-los, que essas reuniões são distintas de situações comuns do dia a dia (já que nelas vigoram regras diferentes de situações normais) e que estas reuniões devem ser reguladas pela vontade revelada de Deus e não pelo desejo do homem (I Co 14.36). Com isso, vemos claramente que não é possível “sermos igreja” cada um em sua própria casa. Deus estabeleceu que sua Igreja de forma que cada cristão tem a obrigação de frequentar reuniões públicas especiais promovidas pelas autoridades da Igreja com o propósito de cultuar ao Senhor. Na carta aos Coríntios lemos que um dos propósitos destas reuniões era o de celebrar o sacramento da Ceia do Senhor:

“Porventura o cálice de bênção, que abençoamos, não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é porventura a comunhão do corpo de Cristo? Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão… Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; E, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim. Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha. Portanto, qualquer que comer este pão, ou beber o cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice. Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor. Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem. Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, quando somos julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo. Portanto, meus irmãos, quando vos ajuntais para comer, esperai uns pelos outros. Mas, se alguém tiver fome, coma em casa, para que não vos ajunteis para condenação”. (I Co 10.16-17; 11.23-34)

Aqui o Apóstolo Paulo escreveu sobre o rito da Ceia do Senhor. Ele diferenciou as refeições comuns, que comemos em casa, da Ceia do Senhor. Assim como a reunião da igreja não é uma reunião comum, mas é uma reunião especial na qual vigoram regras especiais, a Ceia do Senhor não é uma refeição comum, mas é uma refeição especial e, portanto, vigoram regras especiais. O cálice, diz ele, é o “cálice da benção”, “a comunhão do sangue de Cristo” e o pão é “a comunhão do corpo de Cristo”. Diferente de nossas refeições comuns, o propósito da Ceia do Senhor não é matar nossa fome. “Se alguém tiver fome, coma em casa” (I Co 11.34). O propósito da Ceia do Senhor é se alimentar espiritualmente.

Além disso, devemos notar que se a Ceia do Senhor é “a comunhão do corpo de Cristo”, segue-se que este rito somente pode ser celebrado sob a autoridade da Igreja. Não é uma celebração do mundo, mas daqueles que “sendo muitos, [são] um só pão e um só corpo” (I Co 10.17). Isso, por si só, explica porque desigrejados não podem celebrar a Ceia do Senhor. Eles não fazem parte do corpo porque se recusam a se submeter às autoridades do corpo e, portanto, não podem comer do pão e beber do vinho. “Porventura o cálice de bênção, que abençoamos, não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é porventura a comunhão do corpo de Cristo? Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão”. Aqueles que não fazem parte do corpo, por não se submeterem às suas autoridades, não podem se alimentar do corpo e do sangue do Senhor.

Quanto aos que participam da Ceia do Senhor, o Apóstolo Paulo ameaçou “Portanto, qualquer que comer este pão, ou beber o cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor” (I Co 11.29). Em seguida, ele explica que muitos daqueles que Deus pune com doenças e até mesmo com morte alguns dos que participam indignamente: “Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem. Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados” (I Co 11.30-31). Se a questão é tão séria assim para aqueles que de fato participam de algo que foi ordenado por Deus, o que se dirá então daqueles que se dizem cristãos, mas pensam ser autossuficientes e por isso não frequentam os cultos da igreja, não se submete as autoridades e não tomam a Ceia do Senhor? Como Deus vê a arrogância daqueles que pensam que podem ser independentes das ordenanças que Deus estabeleceu para Sua Igreja?

O Mito da Igreja Primitiva

Muitos desigrejados se defendem argumentando que o problema é que a igreja hoje, diferente da igreja primitiva, é muito corrompida; que eles não teriam problema em fazer parte das igrejas do Novo Testamento, mas que os tempos agora são outros. É o mito da Igreja Primitiva. O fato é que o Novo Testamento não esconde a quantidade de problemas que assolava a Igreja Primitiva. Na Igreja Primitiva havia quem matinha relações sexuais com a própria madrasta (I Co 5), quem promovia bebedeiras na Ceia do Senhor (I Co 11.23), cultos desorganizados (I Co 14) incluindo mulheres que queriam pregar e exercer autoridade na Igreja (I Co 14.34-35), quem não cria na ressurreição dos mortos (I Co 15), quem defendia a idolatria e a participação em cultos pagãos (I Co 10, Ap 2.14, 2.20-21), quem queria reinstituir a necessidade das cerimonias judaicas (Cl 2), quem defendia que a circuncisão era um critério para a salvação (At 15, Gálatas), quem defendia a justificação com base nos méritos de cumprir a Lei (Gálatas), quem defendia o racismo (Gl 2.11-12) quem pregava com segundas intenções e interesses desonestos (Fp 1.15, II Ti 6.5), quem prestava culto a anjos (Cl 2.18), quem queria favorecer os ricos e desprezar os pobres na igreja (Tg 2.1-5), quem se apresentava como cristão mas na verdade era um anticristo (I João 2.18-19) e muitas outras coisas.

O fato é que, mesmo em meio a todos esses problemas, os apóstolos nunca justificaram o desigrejados. O Novo Testamento nem sequer cogita a possibilidade de um cristão genuíno ser um desigrejado. Nas páginas do Novo Testamento, ser cristão inclui ser membro da Igreja e não ser membro da Igreja significa ser pagão. O Novo Testamento desconhece a noção de Cristianismo sem Igreja e invariavelmente trata aqueles que não fazem parte da Igreja ou que abandonam a Igreja como rebeldes contra o Senhor. E isso em nenhum momento se baseia em um conceito utópico de Igreja. A Igreja era o corpo de Cristo. Mas, ao mesmo tempo, havia igrejas em diversos níveis espirituais diferentes. Havia igrejas maravilhosas, mas havia também igrejas afundadas no pecado. A Igreja era a congregação dos santos, mas era também um lugar em que havia facções, brigas e falsos mestres. O mesmo é verdade hoje. Há igrejas maravilhosas e há igrejas extremamente problemáticas. A reação dos apóstolos diante das problemáticas nunca foi a de abandonar tudo o que foi a de anular a verdade que a Igreja visível e institucional foi estabelecida por Jesus Cristo. A reação dos apóstolos era a de lutar pela purificação e santificação da Igreja, por meio da oração, do jejum e do ensino da Palavra. É exatamente isso o que os desigrejados não querem. Preferem acreditar que isso não fazia parte do Cristianismo Primitivo e, portanto, que estão muito acima de tudo isso. Isso é quando sequer dão justificativas. Na maioria dos casos nem se importam em se justificar.

Resumo

I – A Igreja visível e institucional foi estabelecida por Deus.

II – Ela é governada por autoridades humanas.

III – Ela promove reuniões públicas para cultuar a Deus, pregar Sua Palavra e celebrar os sacramentos.

IV – Todo cristão tem a obrigação de fazer parte da Igreja, se submetendo às suas autoridades e participando das reuniões publicas.

V – O Novo Testamento não reconhece a validade de um Cristianismo fora da Igreja visível e institucional.

A Confissão Belga, um dos mais importantes documentos do protestantismo, resumiu bem a questão no Artigo 28, “O Dever de Juntar-se à Igreja“:“Cremos, então, que ninguém, qualquer que seja a posição ou qualidade, deve viver afastado dela e contentar-se com sua própria pessoa. Mas cada um deve se juntar e se reunir a ela, mantendo a unidade da Igreja, submetendo-se a sua instrução e disciplina, curvando-se diante do jugo de Jesus Cristo e servindo para a edificação dos irmãos, conforme os dons que Deus concedeu a todos, como membros do mesmo corpo… todos os que se separam desta Igreja ou não se juntam a ela, contrariam a ordem de Deus”.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

INCONFORMADOS COM O MUNDO


Textos-base: I João 2.15-17; Efésios 5.5-17

 Romanos 12.2
Filme Um Um Dia de Fúria
Introdução
Diante de uma sociedade que está sempre oferecendo facilidades e vantagens para o pecado, o comportamento do cristão deve estar de acordo com a Palavra de Deus. Nos dias atuais, o verdadeiro cristão precisa se posicionar frente a uma enormidade de situações que podem levá-lo a fraquejar na fé se ele não estiver alicerçado na Palavra de Deus.


REPÚDIO AO QUE NÃO AGRADA A DEUS

A Palavra de Deus é bem clara quando ensina que existem dois caminhos bem definidos. Não existe meio termo em relação à salvação. Ou o homem se propõe a servir a Deus ou ao pecado (Mateus 7: 13-14).

Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela;
E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem.


Rejeitando os Impulsos do Mundo

Não se conformar com o mundo significa não tomar a sua forma. Não aceitar suas imposições, suas regras. Quando é mencionado o mundo no contexto da Palavra de Deus, entende-se por uma sociedade dominada e dirigida pelo poder do maligno, onde o pecado impera, toma vulto a cada dia, querendo sufocar ou tripudiar os bons propósitos existentes. Não se está falando nos deveres do crente como cidadão, do relacionamento entre o crente e os não crentes. Isto é necessário até que haja oportunidade do cristão falar do amor de Jesus aos perdidos (I Coríntios 5.10).


A Questão dos Limites

É preciso possuir uma consciência sensível para conceder ao Espírito Santo a interferência quanto aos limites das ações do cristão. Os estudiosos do comportamento humano são unânimes em aceitar o fato de que o homem é um ser insaciável. Ele está sempre à procura de mais, do maior, do melhor. Quanto ao aspecto dos limites não é diferente. Quanto mais se eliminam os limites, mais se estendem as permissões, mais o homem deseja. O que se vê é a sociedade legalizando meios indecorosos, pornográficos, ilícitos e outras tantas imoralidades que vão se tornando coisas naturais. Mas isso leva o homem à perdição. O verdadeiro crente não pode e não deve se conformar com essa situação que é batizada com o conceito de liberdade (I Coríntios 6.12; 10.23).

I Coríntios 6:12 Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma.

I Coríntios 10:23 Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas edificam.


Onde Devem Ser Colocados os Limites

Está se tornando cada vez mais difícil superar as pressões que vêem de todos os lados, a, na escola, no trabalho, até mesmo partindo dos inimigos e dos familiares descrentes, etc. A Sociedade (em termos) quer forçar o cristão a aceitar todo o tipo de imoralidade, de atitudes pecaminosas que prejudicam não só a vida do indivíduo, mas também afetam a vida familiar.
Não se conformar com o mundo é repudiar os “modernismos” que igualam os crentes aos descrentes. Ser inconformado com o mundo é aceitar os limites colocados por Jesus (Mateus 5.16). É o mesmo que o apóstolo Paulo também ensinou em Efésios 2.10: “Somos criados em Cristo para as boas obras”. Paulo lembra também que noutro tempo, isto é, antes da conversão, o homem era trevas, mas depois que aceitou Jesus passou a ser luz (Efésios 5.8).

Porque noutro tempo éreis trevas, mas agora sois luz no SENHOR; andai como filhos da luz


O Padrão do Cristão

Não se conformar é não tomar para si o padrão do mundo, porquanto o cristão já possui uma forma delineada pelo Espírito Santo, através das Escrituras Sagradas (II Coríntios 3.18). O mundo passa (I João 2.17) e tudo aquilo que é ditado pelo mundo também.
O ambiente exerce grande atração sobre o cristão e, à medida que o tempo passa, começa a acontecer uma acomodação e a fé do cristão vai esmaecendo. Ele então aceita com mais naturalidade coisas que não convém. No entanto, a advertência é para o crente não acomodar-se e sim transformar-se pela renovação da mente.

II Coríntios 3.18 Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor.

I João 2.17 E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre.


O RELATIVO SE SOBREPONDO AO ABSOLUTO

Valores absolutos determinados por Deus. – Deus, na sua imensurável sabedoria, determinou certos padrões de princípios universais que estão registrados nas escrituras para servir de normas de vida para o homem. São princípios absolutos, decisivos que se sobrepõem às questões de raças, povos, idiomas, etc. Foram determinados como normas de conduta para o homem viver segundo a vontade de Deus e ser feliz. Não se está falando aqui de costumes porque estes diferem de povo para povo, de sociedade para sociedade. Trata-se de padrões absolutos de Deus que abrangem toda a Humanidade. O pecado está na ordem do absoluto. Em qualquer lugar ou sociedade onde existir o homem, o que Deus determina como pecado na Sua Palavra inclui todos os homens.


Os Valores Relativos

As mudanças sociais tem trazido progresso em muitos aspectos. Não há como negar essa tal verdade. No entanto, também, não se pode negar que o homem tem se tornado cada vez mais irreverente e cético, desprezando os valores absolutos, válidos para todas as pessoas, em todas as épocas e criando valores relativos para satisfazerem seus próprios interesses (Filipenses 2.21).

Porque todos buscam o que é seu, e não o que é de Cristo Jesus.


O Caso do Homossexualismo

Muitas sociedades já admitem o casamento de duas pessoas do mesmo sexo. Alguns aspectos que comprovam a ilegalidade da situação são: nenhuma pesquisa científica comprova que a homossexualidade é baseada em determinismo biológico. Não existe base orgânica para tal prática. Não existe, também, diferenças cromossônicas para o homossexual e heterossexual. Só existem diferenças, nesse sentido, para macho e fêmea. Outro fator que influencia tal procedimento é a educação. A criança precisa conviver com pessoas do mesmo sexo (o menino com o pai, a menina com a mãe) para sua identificação saudável. Em sentido mais amplo, o homossexualismo é questão de condicionamento, com orientação de preferência sexual aprendida. Toda a Bíblia condena essa prática. Jesus (Novo Testamento) em Mateus 19.4-5 ratificou a lei moral instituída por Deus (Antigo Testamento) em Gênesis 1.26-27. O homossexualismo é abominação contra Deus (Levítico 18.22).

Mateus 19.4-5
Ele, porém, respondendo, disse-lhes: Não tendes lido que aquele que os fez no princípio macho e fêmea os fez,
E disse: Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne?

Levítico 18.22 Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; abominação é;


A Questão do Aborto

O aborto não é condenado apenas por questão religiosa. A medicina fetal, a genética e a biológica difundem o fato de que a vida tem início na concepção. Esse fato não pode ser distorcido para satisfazer os interesses escusos de alguns. O aborto, além de ser uma agressão a um indefeso, é ocasião em que a mulher fica exposta a contrair várias enfermidades, além do complexo de culpa e distúrbios emocionais. Só Deus concede a vida, só Ele pode tirar (Ezequiel 18.4). A vida é um dom de Deus (Atos 17.28). O padrão de conduta, de moral, não é mais comum a todos. Cada um cria e estabelece suas próprias regras. Ninguém se importa com o que poderá com o que poderá acontecer com o seu parente ou com o seu próximo. Isso traz um desequilíbrio, um caos para a sociedade, porque os conceitos de certo e errado estão sendo banidos, não encontram mais lugar nas atitudes das pessoas. Não existe um padrão que oriente, que delimite.

Ezequiel 18.4 Eis que todas as almas são minhas; como o é a alma do pai, assim também a alma do filho é minha: a alma que pecar, essa morrerá.

Atos 17.28 Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração.


O CRISTÃO E SUAS CONVICÇÕES

Satanás procura por todos os meios minar as convicções do crente. Se o cristão é convicto daquilo que crê, não basta demonstrar apenas por palavras, precisa usar uma forma mais convincente. E não há outra forma melhor do que repudiar aquilo que o mundo oferece e manter-se firme na fé em Cristo Jesus.


Separados do Mundo Por Amor a Cristo

O cristão vive no mundo mas não pertence a ele. Já está morto com Cristo (Romanos 6.8). Isso significa que a sua vida pertence ao Senhor. O compromisso do cristão é,pois, amar a Jesus sobre todas as coisas, de todo o coração, de toda a alma e de todo o pensamento (Mateus 22.37).
O apóstolo João diz: Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele.” I João 2.15. Esses dois aspectos opostos não podem ocupar o coração do homem ao mesmo tempo.

Romanos 6.8 Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos;

Mateus 22.37 E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento.


O Amor a Jesus Leva o Cristão à Renúncia

Jesus disse aos seus discípulos: “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.” (Mateus 16.24). Renunciar é não aceitar, não concordar, deixar de lado, mesmo quando se trata de algo que se queria, que traria satisfação à carne, porém, é preciso fazer um sacrifício por amor a Jesus.

João 15.18-19
Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim.
Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia.


O Cuidado com o Proceder

Não basta apenas o crente evitar o pecado. É necessário manter uma disposição firme de condená-lo, de não se conformar com a existência dele, não ter cumplicidade com aquilo que desagrada a Deus e, também combatê-lo. As obras más devem ser reprovadas por todo cristão. Há necessidade do cristão andar vigilante, desperto, para não cair nas astutas ciladas do inimigo. Portar-se com prudência, não como tolo.


CONCLUSÃO

Ser crente verdadeiro é ser separado. É não se conformar, não se adaptar mais ao pecado, à imoralidade. É procurar mudar o ambiente onde vive porque possui a mente de Cristo. A graça deve superabundar onde o pecado abundou (Romanos 5.20).

Veio, porém, a lei para que a ofensa abundasse; mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça;


sábado, 16 de novembro de 2013

Antinomianismo - R. C. Sproul

Há um antigo verso que serve para ilustrar bem o tema antinomiano. O verso diz: "Livre da lei, que maravilhosa condição, posso pecar quanto quiser e ainda alcançar a remissão".
Foto e texto O calvinismo
Antinomianismo significa literalmente "antilei". Ele nega ou diminui a importância da lei de Deus na vida do crente. É o oposto da heresia gêmea, o legalismo.

Os antinomianos cultivam aversão pela lei de várias maneiras. Alguns acreditam que não têm obrigação de obedecer às leis morais de Deus porque Jesus os libertou da lei. Insistem em que a graça não só liberta da maldição da lei de Deus, mas também nos liberta da obrigação de obedecê-la. A graça, pois, se torna uma licença para a desobediência.

O mais surpreendente é que as pessoas defendem este ponto de vista a despeito do ensino vigoroso de Paulo contra ele. Paulo, mais do que qualquer outro escritor do Novo Testamento, enfatizou as diferenças entre a lei e a graça. Ele se gloriava na Nova Aliança. Mesmo assim, foi muito explícito em sua condenação do antinomianismo. Em Romanos 3.31 ele escreve: "Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma, antes estabelecemos a lei.".

Martinho Lutero, ao defender a doutrina da justificação pela fé somente, foi acusado de antinomianismo. Ele, no entanto, afirmava com Thiago que "a fé sem obras é morta". Lutero discutiu com seu discípulo João Agrícola sobre esta questão. Agrícola negava que a Lei tivesse qualquer propósito na vida do crente. Negava até mesmo que a lei servisse para preparar o pecador para a graça. Lutero respondeu a Agrícola com sua obra Contra o Antinomianismo em 1539. Posteriormente, Agrícola se retratou de suas idéias antinomianas, mas a questão permaneceu.

Teólogos luteranos posteriores afirmaram a visão de Lutero da lei. Na Fórmula de Concórdia (1577), a última das declarações da fé luteranas, eles relacionaram três utilidades da lei: (1) revelar o pecador; (2) estabelecer um nível geral de decência na sociedade como um todo e (3) proporcionar uma regra da vida àqueles que foram regenerados pela fé em Cristo.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O Livre Arbítrio, na visão Calvinista.

Livre Arbítrio, uma expressão usada por todo o mundo, mas sem o cuidado de uma definição ou até mesmo com ausência total de definição.

Vejamos a definição que alguns homens nos oferecem, da expressão Livre Arbítrio:


- “É uma faculdade da razão pela qual se pode discernir o bem e o mal, e da vontade, pela qual se pode escolher um ou outro.” – Orígenes

- “É uma faculdade da razão e da vontade pela qual se escolhe o bem, quando se tem a assistência da graça de Deus, e o mal, quando não se tem essa assistência.” – Agostinho de Hipona

- “É uma concessão feita à liberdade do querer, que não se pode perder, e um julgamento indeclinável da razão.” – Bernardo de Claraval


Petrus Lombardus, o Mestre das Sentenças, e os doutores escolásticos preferiam a definição de Agostinho, porque é mais fácil e não exclui a graça de Deus, sem a qual eles reconheciam que a vontade humana não tem nenhum poder.

Mas o que significa a palavra “arbítrio”? Para Petrus Lombardus e os doutores escolásticos, a palavra “arbítrio” deve referir-se à razão, cuja função é discernir o bem e o mal. Já o adjetivo “livre” ou “franco”, que se junta à palavra “arbítrio”, pertence propriamente à vontade, a qual pode ser inclinada para uma parte ou para outra. Assim, Tomás de Aquino, entende que a liberdade ajusta-se propriamente à vontade: “O livre-arbítrio é uma virtude eletiva que, intermediária entre a inteligência e a vontade, todavia inclina-se mais para a vontade”.

A força do livre-arbítrio, como vimos até aqui, consiste na razão e na vontade. Quanto a sua extensão, geralmente lhe são atribuídas coisas externas, não referentes ao reino de Deus, mas ao conselho e à escolha dos homens; a verdadeira justiça é atribuída à graça de Deus, e a regeneração, ao seu Espírito. Assim, entendemos que há três tipos de querer: o sensitivo, o animal e o espiritual. Quanto aos dois primeiros, o homem é declarado livre, mas, quanto ao terceiro, se diz que é operação do Espírito Santo.

Podemos observar que aqueles que tratam do livre-arbítrio não dão muita atenção às obras externas, pertencentes à vida corporal, mas consideram principalmente a obediência à vontade de Deus. Calvino considerava esta segunda questão como a principal, ao mesmo tempo em que não negligenciava a outra: “O homem não tem livre-arbítrio para praticar o bem, a não ser que seja ajudado pela graça de Deus e pela graça espiritual ou especial, dada tão-somente aos eleitos, mediante a regeneração”. Petrus Lombardus declara que o homem não tem o livre-arbítrio no sentido de que ele é auto-suficiente para pensar ou praticar tanto bem como o mal, mas unicamente no sentido de que ele não está sujeito à obrigação forçada, ao constrangimento. Essa liberdade não sofre impedimentos, por mais malignos e servos do pecado que sejamos, e ainda que não consigamos fazer outra coisa que não seja o mal. Assim, vemos que o homem não tem o livre-arbítrio porque tem a liberdade de escolher tanto o bem como o mal, mas ele, o homem, faz o que faz por que quer, e não por constrangimento.

Ora, que bela liberdade é essa, diz Calvino, que o homem é constrangido a servir o pecado, mas que o faz numa servidão voluntária, e que a sua vontade é mantida prisioneira pelos laços do pecado! E, prosseguindo nas palavras de Calvino, quando se atribui ao homem o livre-arbítrio, quantos não haverá que incontinenti se julgarão mestres e senhores do seu juízo e da sua vontade, e capazes de fazer girar a virtude de um e de outro lado? Poder-se-ia dizer que o perigo poderia ser extirpado, desde que as pessoas sejam advertidas quanto ao sentido da expressão “livre-arbítrio”. Para Calvino, o melhor seria dispensar tal vocábulo, porque, uma vez inventado, é logo bem recebido por quem não leva em conta a exposição feita pelos antigos; e o toma como motivo para orgulhar-se em si mesmo. Assim, tal vocábulo se torna um enfeite soberbo para algo insignificante.

Agostinho, em seus escritos, confessa que a vontade do homem não é livre sem o Espírito de Deus, visto que é dominado por suas concupiscências. E mais, que depois que a vontade é dominada pelo mal em que caiu, a nossa natureza perdeu a liberdade. O homem, ainda segundo Agostinho, fazendo mau uso do livre-arbítrio, perdeu-o, e perdeu-se e, por consequência, o livre-arbítrio está em cativeiro e não pode fazer bem algum.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Porque Devo Ser Um Calvinista


Por que devo ser um calvinista: explicando a soberania de Deus sobre o homem e o pacto com o homem


“Pois, se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, porque me é imposta essa obrigação; e ai de mim, se não anunciar o evangelho!” —1 Coríntios 9.16


Nosso mundo pós-moderno diz muito sobre “opções”. É dito muito pouco sobreconvicções. Supõe-se que todos sejam felizes com suas próprias “preferências”, e o acordo tácito é que eu não me preocuparei demais com suas preferências (digamos, por exemplo, homossexualidade, cereal matinal, carros antigos, pedofilia, ou Dan Rather) se você não se preocupar demais com as minhas. Nós simplesmente fazemos “escolhas”, e estamos certos que não nos tornamos dogmáticos demais sobre elas. A Bíblia, por outro lado, tem pouco a dizer sobre o que chamaríamos “preferências”. Tem muito que dizer sobre o que definimos como “convicções”. Preferências são escolhas que nos agradam; convicções são crenças que nos compelem.



Paulo estava convencido de que Deus o havia chamado para pregar o Evangelho. Isso não era uma preferência. Era uma convicção. Esse é o porquê ele declarou que “era imposta essa obrigação” sobre ele. Ele era dirigido por uma obrigação interna – uma compulsão que o próprio Deus tinha instilado nele para pregar o Evangelho.

Hoje vou falar sobre por que eu devo ser um calvinista. Não estou falando principalmente por que você deveria ser um calvinista, embora se você não seja um calvinista, espero que se torne um. Não estou abordando o tema “Por que sou um calvinista”. Isso poderia simplesmente terminar sendo uma dissertação desapaixonada. Sobre o que estou falando hoje arde em minha alma e inflama a minha mente. Isso é o que verdadeiras convicções fazem. Não são simplesmente assuntos de discussão vagarosa. São assuntos de convicção apaixonada. Por que eu devo ser um calvinista?

terça-feira, 22 de outubro de 2013